Estamos preparados para os ventos e tempestades?
Confira a entrevista exclusiva com o professor Acir Mércio Loredo-Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista no tema
Os ventos impactantes da última sexta-feira, 3 de novembro, em São Paulo, causaram uma série de danos estruturais em edificações. Vimos diversos prédios inundados, árvores caídas, telhados e fachadas arrancados. Entre os destaques, vimos as estruturas das arquibancadas do GP de Fórmula1 em Interlagos abaladas, com o teto arrancado, entre outras cenas chocantes.
Conversamos com o professor Acir Mércio Loredo-Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista na ação dos ventos em edificações para entender o que pode ter acontecido e preparar o setor de esquadrias para sempre oferecer produtos seguros e que resistam a todos os tipos de intempéries previstos em normas.
AFEAL News – Os ventos estão ficando mais fortes?
Professor Acir – Atualmente, temos um número bem maior de estações meteorológicas no país e isto conduz naturalmente a valores maiores de velocidades do vento sendo registrados. Daí a importância da atualização do mapa das isopletas da velocidade básica do vento na NBR-6123. Particularmente em relação ao evento da última sexta-feira, 3 de novembro, algumas velocidades registradas estão dentro das velocidades previstas na versão atual da NBR-6123 e outras, um pouco acima. É interessante constatar que o mapa de isopletas que propusemos (e que, infelizmente, não foi aceito) para integrar a nova versão da NBR-6123 contempla as velocidades atingidas neste último evento, mas sem folga, o que corrobora a necessidade urgente da revisão do mapa.
AFEAL News – O que provocou estes acidentes?
Professor Acir – É muito difícil afirmar, ainda mais que vários acidentes ocorreram com velocidades abaixo das velocidades indicadas na NBR-6123. Seria necessária uma revisão de cada caso em particular. Mas, pela nossa experiência, geralmente os acidentes causados pelo vento ocorrem pelo uso inadequado da norma, às vezes com velocidades menores do que aquelas indicadas, às vezes com coeficientes aerodinâmicos inadequados, particularmente aqueles associados à pressão interna em edificações.
AFEAL News – Estruturas temporárias podem ser seguras? E as vedações?
Professor Acir – O nível de segurança está associado ao risco de falha admitido no projeto. Quaisquer projetos relacionados a eventos climatológicos implicam em uma escolha do período de retorno associado à ocorrência daquele fenômeno natural para o qual se está projetando. Tanto estruturas temporárias, quanto elementos de vedação são projetados obedecendo a esta lógica. A nova versão da NBR-6123 traz uma importante melhoria em relação a este quesito, conforme explicado a seguir.
AFEAL News – O que houve na mudança do fator S3 da Norma 6123 – Força dos ventos em Edificações e quais as razões disso?
Professor Acir – Tivemos um avanço importante na NBR-6123, que foi a atualização da tabela correspondente ao fator estatístico S3. Além de um maior detalhamento e uma descrição mais clara dos tipos de edificações conforme seu uso e sua importância, os elementos de vedação passaram a incorporar cada grupo específico acompanhando a importância e o uso da edificação a que pertence. Essa é uma grande evolução em relação à versão atual, em que os elementos de vedação são tratados separadamente. Uma das razões dessa alteração é que os registros recentes de falhas de elementos de vedação demonstram que essa ocorrência é muito frequente tanto em fachadas quanto em coberturas. Além disso, é muito importante que se entenda que a falha de elementos de vedação pode conduzir: (a) à falha da estrutura por alteração da pressão interna; (b) ao lançamento de projéteis que colocam em risco a integridade e a vida humanas; (c) ao impedimento de uso da edificação, o que seria crítico (e até incoerente com as definições das edificações) nos casos dos Grupos 1 e 2.