Ensaios de Fachadas
O desenvolvimento tecnológico dos sistemas de fachadas de grande porte criou uma nova solicitação nesse segmento – os ensaios com protótipos em escala real, que permitem verificação do desempenho, elevando a qualidade e a segurança do produto final.
Obras como a do Citibank (1986) e do BankBoston (2002) trouxeram mudanças significativas nos conceitos de fachadas e na metodologia de testes de desempenho. Nos últimos anos, o setor deu um salto em direção à qualidade com a entrada em vigor da norma ABNT NBR 10821 – Esquadrias Externas para Edificações –. e a construção da maior câmara de testes do Brasil, atualmente, no Instituto Tecnológico da Construção Civil (ITEC).
Promover ensaios de protótipos de fachadas converteu-se em atestado de qualidade para construções de grande porte.
O objetivo dos ensaios em protótipos é verificar o desempenho dos sistemas de fachadas e analisar a qualidade da fabricação e instalação das esquadrias. Com isso, é possível elevar a eficiência e a segurança do produto final e evitar as improvisações de instalação. As empresas que desenvolvem os sistemas de fachada realizam testes para garantir ao fabricante o nível de seu produto, mas quem responde pela esquadria montada é o serralheiro.
Como o protótipo representa em escala real um determinado trecho da fachada, geralmente são adotados os pontos mais vulneráveis, como os localizados nos andares mais altos ou que apresentam interface com painéis de alumínio ou granito. “Os ensaios vão muito além da preparação e aplicação dos testes. São, na realidade, um aprendizado da equipe de fabricação e instalação”, afirma Nelson Kost, consultor de esquadrias.
Testes aplicados
Como a construtora quer a garantia do produto que utilizará, os testes em protótipos são um diferencial para o profissional quando participa de uma concorrência. Sua realização exige informações detalhadas da obra: número de andares, localização, cálculo estrutural e tipo de estrutura para especificação das cargas a empregar nos testes. Para cada construção existe uma pressão a ser determinada em função da região em que está localizada.
Os protótipos são testados conforme a norma ABNT NBR 10 821, que mostra como avaliar os resultados dos testes e dá os limites para aprovar ou reprovar as esquadrias. Em apoio a essa norma existem aquelas que descrevem o procedimento dos ensaios: NBRs 6485 (verificação da permeabilidade ao ar), 6486 (verificação da estanqueidade à água) e 6487 (verificação do comportamento quando submetido a cargas uniformemente distribuídas).
O primeiro teste aplicado é o de permeabilidade ao ar. A fachada é submetida a uma pressão de vento de 50 pascals e depois ao anemômetro (aparelho que verifica os pontos onde há passagem de ar). O segundo é o de estanqueidade à água, que, lançada na fachada por 15 minutos, não pode passar para o lado interno. Em seguida é feito o ensaio de cargas de vento uniformemente distribuídas. O protótipo é exposto a cargas positiva e negativa (sucção) para verificar a deformação dos perfis em relação à folha e às ancoragens. Por último, aplica-se novamente o teste de permeabilidade ao ar, para averiguar se a fachada continua estanque conforme a norma.
Caso o protótipo apresente problemas nos ensaios de permeabilidade ao ar ou estanqueidade à água, as correções e alterações serão indicadas nos desenhos de projeto. Após os ajustes, realiza-se nova bateria de testes. Se a fachada tem folhas móveis, como maxim-ar, podem ser feitos ensaios de resistência às operações de manuseio. Quando existem módulos com granito ou chapa de alumínio, verificam-se a estrutura (perfis) em que o material será aplicado e as juntas.
Processo de montagem
A engenheira Fabiola Rago, consultora de esquadrias e normas técnicas, explica que normalmente o consultor de esquadrias define as características do protótipo que servirá para a avaliação do comportamento de toda a estrutura. Com dimensões previamente definidas, esse protótipo é instalado na câmara de testes, preparada, por sua vez, com parede de alvenaria, de concreto ou com sistema de pré-moldados, simulando exatamente a instalação na edificação.
A montagem dos protótipos pode ser executada pelo fabricante da fachada. A mão-de-obra depende do custo, do tamanho da peça, do peso e do transporte. No caso de fachadas com painéis pré-moldados, a câmara é preparada para receber primeiro os painéis e depois os caixilhos.
Os testes começam a ser efetuados após a cura do silicone.
Depois da montagem do protótipo na câmara, uma bateria de pré-testes verifica pontos críticos que poderão ser ajustados ou corrigidos antes da prova final. Durante a realização dos ensaios, podem ocorrer modificações em itens como guarnição de borracha, escova, vidro, distância das ancoragens e aplicação do silicone. Todas as mudanças são incorporadas ao projeto. É importante que os testes sejam acompanhados por técnicos das partes envolvidas no projeto – fabricante da fachada, consultor e responsável pela obra – para que elementos e procedimentos definidos durante a realização dos ensaios sejam seguidos na instalação da fachada na edificação.
A vantagem para o fabricante é que, além de testar o produto e o projeto, ele estará treinando sua equipe de fabricação e instalação. Segundo Nelson Kost, a maioria dos protótipos ensaiados é de sistemas de alta qualidade. O ponto vulnerável está na fase de fabricação e/ou instalação dos caixilhos, por falta de mão-de-obra capacitada ou de compreensão do conceito do sistema.
Texto resumido a partir de reportagem de Gilmara Gelinski, publicada originalmente na revista Finestra