“Guarda-corpos de vidro sendo arrancados, esquadrias inteiras sendo arrancadas”
“A ocorrência de ciclones ou de tempestades de maior intensidade no Brasil já vem sendo monitorada pelas instituições da área de meteorologia há alguns anos, demonstrando-se a maior probabilidade de ocorrência nos últimos anos, marcadamente na Região Sul como um todo, mas também em algumas localidades no interior de São Paulo.
Os riscos inerentes a estas ocorrências no que diz respeito às edificações e, por consequência, à segurança das pessoas, só são mitigados por meio da adoção de medidas de Engenharia que são previstas nas normas brasileiras, em especial, na ABNT NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações, a qual inclusive, se encontra em processo de revisão por comissão de estudos da ABNT.
Tradicionalmente o ensino de Engenharia e também o ensino de Arquitetura abordam esta norma e as medidas decorrentes dela, via de regra, apenas para a estrutura da edificação.
No entanto, a ação do vento sobre as edificações ocorre nas fachadas como um todo, nas coberturas, nas áreas externas de uso coletivo de forma diferente em cada edificação dependendo de fatores como a forma geométrica, as características do entorno e da velocidade básica do vento da localidade em que se encontra.
O que assistimos mais uma vez com a ocorrência do ciclone nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, mas também de forma mais moderada no estado de São Paulo, foram cenas que denotam uma grande deficiência de conhecimento e medidas que devem ser tomadas nos projetos e na especificação e compra de componentes e sistemas construtivos.
Guarda-corpos de vidro sendo arrancados, esquadrias inteiras sendo arrancadas, telhados inteiros voando, foram as cenas filmadas e fotografadas nas cidades dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Mas se estes componentes construtivos tivessem sido dimensionados em projetos e por fabricantes, de acordo com as velocidades básicas e condições previstas na ABNT NBR 6123 é seguro dizermos que não teríamos estas cenas.
As formas arquitetônicas que temos atualmente favorecem ainda mais a ocorrência de riscos desta natureza se não houver Engenharia adequada com medidas já previstas nas normas – além da norma ABNT NBR 6123, nas normas ABNT NBR 10821, ABNT NBR 7199 e ABNT NBR 14718. Esta última, que se refere aos guarda-corpos, foi revisada em 2019 e enfatiza nesta última versão a necessidade de dimensionamento dos guarda-corpos em relação a esforços decorrentes da ação do vento.
É urgente que façamos um esforço como setor da construção como um todo, aqui incluindo fortemente os projetistas de Arquitetura também, para uma consciência maior e capacitação de engenheiros e arquitetos que projetam, que coordenam projetos, que qualificam fornecedores dos componentes e sistemas construtivos como esquadrias, guarda-corpos, vidros, estruturas de telhados e telhas e outros de que a ação do vento precisa ser corretamente avaliada em cada situação usando as normas e conhecimento de Engenharia necessários.
Usuários finais e administração de condomínios precisam ser também conscientizados dos riscos dos fechamentos de sacadas ou varandas com sistemas em vidro que não são projetados conforme a ABNT NBR ABNT NBR 16259 que foi publicada em 2014, mas ainda não há consciência de que há riscos tanto para o proprietário quanto para o condomínio e transeuntes, quando se faz o fechamento sem projeto e dimensionamento adequados.
Do contrário, com as mudanças climáticas que já estão sendo monitoradas há anos, vamos ter cada vez mais tragédias evitáveis”
Maria Angelica Covelo Silva – Engenheira Civil, Mestre e Doutora em Engenharia, Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento.