“Do mesmo lado” traz apresentação sobre recuperação do setor
No último dia 7 de outubro, o grupo de entidades “Do mesmo lado”, coordenado pela Abrainc e do qual a AFEAL participa, esteve reunido para a apresentação “A Recuperação Surpreendente”, realizada pela economista Ana Maria Castelo da FGV – Fundação Getúlio Vargas. O evento contou com a participação do gerente geral da AFEAL, Fernando Rosa, que faz um breve relato sobre os dados apresentados.
“Nos últimos meses, muito foi discutido sobre como a recuperação da economia se daria. Seria uma retomada em U, V, W…? Isto demonstrou o ambiente de incertezas pelo qual o paiís passou e passa.
Ana Maria iniciou o evento apresentando um gráfico sobre o volume de venda dos materiais da construção no comércio varejista. O gráfico demonstrou que, em julho de 2020, o indicador superou o patamar pré-Covid (fevereiro de 2020) em 14%. No ano até julho, o volume de vendas já registrava um crescimento de 1,9% na comparação com 2019. Fonte: IBGE.
Alguns motivos impulsionaram as vendas, como o auxílio emergencial e a necessidade de melhorar a moradia, pelo trabalho de home office. O auxílio emergencial, além de repor os rendimentos, também foi em muitos casos) um adicional de renda. A recuperação forte do comércio reflete o efeito reforma decorrente da quarentena que foi potencializado pelo auxílio emergencial. Em geral, as lojas de material de construção puderam ficar abertas em todo o país, uma vez que a construção foi considerada atividade essencial. As vendas online contribuíram também para a explosão das vendas de materiais.
Em sondagem junto ao comércio de materiais de construção, a FGV apurou os fatores de limitação do comércio de materiais de construção, destacando o tempo de entrega dos fornecedores (29,6%), a competição no próprio setor (22,9%) e demanda insuficiente (18,8%). Outros fatores: custo da mão de obra (6,4%), custo financeiro (5,4%), acesso ao crédito bancário (3,2%), falta de espaço físico (1,1%). 15,5% dos pesquisados disseram que não houve impedimentos.
Em sondagem junto à indústria de materiais de construção, identificou-se que ela sentiu muito a queda no consumo, mas se recuperou. A taxa acumulada no ano até agosto de 2020, comparada a igual período de 2019, apresentou um crescimento de 8,4% da produção de cimento, de 0,8% na produção de tubos e acessórios de material plástico. Por outro lado, houve uma queda de 5,6% na produção de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes, quedas de 20,2% na produção de produtos cerâmicos e de 6,8% de insumos típicos.
A Ana Maria Castelo adotou como dado simbólico o aumento da produção do cimento como um indicador de recuperação do setor da construção civil.
A Sondagem da Construção da FGV captou a melhora da confiança a partir de maio. Em setembro, a Sondagem apontou que o Indicador de Situação atual das empresas já quase recuperou o patamar de antes do início da quarentena determinada pela Covid. Na verdade, em alguns segmentos, até superou o índice de fevereiro.
Outro indicador de retomada do setor é a criação de novos empregos com carteira assinada. Em agosto de 2020, o setor atingiu a marca de 50.489 novos postos de trabalho, após um período de demissões (nos meses de março/abril/maio). Este número representa 20% do saldo líquido de contratações no Brasil como um todo. Ou seja, a construção civil que representa cerca de 4% do PIB, deu uma resposta de 20% na retomada dos empregos formais, números inequívocos que fortalecem a construção civil na retomada do desenvolvimento no país. O saldo positivo do Caged a partir de junho confirma a progressiva recuperação do ciclo produtivo. Com o aumento das contratações, o saldo no ano já se mostra positivo novamente.
A Sondagem da FGV também comparou o desempenho de etapas de construção, preparação de terreno, edificações residenciais, edificações não residenciais, obras viárias, obras de artes especiais e obras de instalações – comparando os resultados do mês de fevereiro/20 com setembro/20. Das 07 etapas pesquisadas, 04 delas já superaram os números de fevereiro/20 (obras viárias, edificações residenciais, preparação de terreno, obras de artes especiais), 02 estão muito próximas (edificações não residenciais, construção). A exceção é o item obras de instalações, que apresenta 13 pontos abaixo (fevereiro/20 – 80 contra setembro/20 – 67,4).
Em pesquisa com as incorporadoras associadas a ABRAINC, as vendas acumuladas em 2020, superam o desempenho dos últimos 5 anos. (2015/2019), com destaque para as vendas de produtos para a Minha Casa Minha Vida.
Em todos os gráficos apresentados, evidencia-se a recuperação em V, segundo a Ana Maria Castelo “um V exibido”. O índice de incerteza também apresenta um acentuado V ao contrário.
Perspectivas:
Ponto positivos:
– Retomada das obras
– Retomada dos lançamentos
– Obras de reforma decorrentes das vendas
– Redução das taxas de juros do crédito imobiliário
– Lançamento do Programa Minha Casa Verde Amarela
– Marco Regulatório do Saneamento
– Concessões PPI
Ponto negativos:
– Incertezas ainda elevadas
– Fim do auxílio emergencial
– Alta taxa de desemprego
– Mudanças na tributação
– Baixa capacidade de investimento dos entes públicos
Quando perguntada sobre se teremos um período de desenvolvimento sustentado, Ana Maria Castelo adotou uma postura mais cautelosa. Diferentemente da crise de 2009, o governo não terá condições de adotar medidas anticíclicas, pois a capacidade de investimento esta muito baixa.”